sexta-feira, 20 de março de 2009

Bilene

O consenso era geral em relação ao tipo de viagem que se pretendia – Sol e Praia. Apenas não havia unanimidade relativamente ao destino nem a forma para alcançá-lo. O grupo dividiu-se em dois, um para a Ponta do Ouro e o nosso grupo para o Bilene.

A excitação começou na manhã de sexta-feira, quando eu e o Pedro Atanásio nos comprometemos a alugar uma mini-Van sem saber à partida quantas pessoas iriam alinhar na aventura - na pior das hipóteses íriamos os dois confortavelmente sem necessidade de alugar casa. Elaboramos as nossas listas de candidatos e começamos a entrar em contacto com os possíveis interessados. A Virgínia, a Thais, o Gabriel (o blogador) e o Hugo foram os primeiros a por o dedo no ar. Mais alguns se seguiram e mais tarde desistiram. Éramos seis. Poucos mas bons.
Saímos de Maputo às nove da noite sem saber onde iríamos “pendurar o pote” à chegada. A viagem que seria de uma hora e meia levou quase três. Talvez pela falta de experiência do único (solícito) condutor em automóveis de volante à direita, pela dificuldade da estrada, pela falta de luz, ou pelas paragens que a polícia nos obrigou a fazer (sem sucesso, graças aos nossos ricos passaportes diplomáticos), chegamos ao Bilene à meia-noite.
Corremos quase todos os complexos turísticos abertos aquela hora – três, o cálculo perfeito do criador, e ao terceiro foi de vez. Alugamos uma casa no “resort” São Martinho, antigo complexo de férias para os trabalhadores dos caminhos de ferro de Moçambique (CFM). O sítio era, segundo os guardas, seguro. Vedado e vigiado por vários guardas, tantos como as casas do complexo, todos eles apetrechados com as respectivas armas (espingardas, shotguns e AK47 – presumo que atribuídas por ordem hierárquica), desconfiamos até tratar-se de uma antiga base militar.
Nós ficamos com a casa 36, a mais alta do complexo e por isso com as melhores vistas sobre o lago que estava mesmo ali a cem metros. Dois quartos, duas casas de banho, cozinha, camas para todos, e um alpendre com mesa corrida que naquela noite dava para o céu estrelado e convidava a uma cervejinha. Tudo por cinco mil meticais o fim-de-semana (12€/noite/pessoa).
Um dos guardas, o Arcanjo (assim se chamava), ganhou logo a nossa confiança pela amabilidade gratuita demonstrada desde que entramos no São Martinho. Ajudou-nos a carregar alguma bagagem, acompanhou-nos em todo o processo de check-in, e até nos fez escolta na zona de diversão nocturna local onde fomos apenas buscar gelo. Agradecemos com um convite para integrar a nossa comitiva durante o fim-de-semana. E agora com cinco marmanjos, um Arcanjo (com Kalashnikov) e um Gabriel, nem Deus se atreveria a por em causa o nosso fim-de-semana.
Essa noite foi o ensaio geral para a “Saturday night fever” que se avizinhava. O Pedro estreou a guitarra como manda a cartilha. Passamos um serão agradável de música ao vivo e Laurentinas Q.B.. Alguns ficaram até ao nascer do sol e outros continuaram.
O Bilene é uma pequena povoação que, por ignorância, empresta o nome a toda a envolvente limítrofe. À semelhança da lagoa de Albufeira, trata-se de um lago de água salgada separado do mar por uma barragem natural de areia. A praia, de mar, é apenas acessível de todo-o-terreno ou de barco. Nós, por imposição, optamos pelo barco.
Pelas dez horas da manhã já o Arcanjo tinha regateado o preço com o Mário, que viria a ser o nosso skipper de serviço nos dois dias de praia. Tratado todo o processo de logística (Comidas, bebidas, cooler, grelhador, carvão e toalhas) pusémo-nos a milhas. Poucas milhas, apenas as que atravessam o lago de uma margem a outra, até chegar à praia. À nossa espera estava a única árvore da praia. E nós não nos fizemos rogados em aceitar o regalo.
Nessa manhã, nós e os caranguejos, inauguramos os banhos durante vários minutos (ou horas). Só os sinais de fumo, emitidos pelo frango no churrasco que o Gabriel começou a preparar, fizeram a malta sair da água - só um Brasileiro para se lembrar de levar grelhador e arca frigorífica (em Brasileiro, cooler) para praia – Saravá.
Já levávamos dois frangos no marcador quando chegou o segundo grupo (Ana Cruz, João Palminhas, Nuno Rocha, Nuno Figueiredo e Raquel Viana). O Arcanjo imediatamente, através das suas “conections”, reservou a casa do lado para os recém-chegados. E continuamos uma tarde agradável entre o mar e a lagoa.
Às cinco da tarde, o Skipper avisou que estava a chegar a hora. Justificava o precipitado regresso com as redes dos pescadores, que a partir das seis da tarde tomam conta do lago e não deixam passar mais barcos. Voltamos a carregar tudo para o barquito cor-de-rosa do Mário e recolhemos para o lado de lá. O grupo dividiu-se em dois: uma parte foi ao mercado comprar peixe, camarão e cervejinha (tentem ler com sotaque brasileiro); a outra voltou à mansão 36 preparar a chegada dos que foram ao mercado (entenda-se, descansar, comer e preparar o grelhador).
O jantar não tinha hora marcada. Fomos comendo à medida que os peixes saltavam do grelhador para a mesa. Nos intervalos, uns camarões cozidos (40 paus o quilo – 1€) para não dar descanso ao dente. Para alguns privilegiados houve caipirinha preparada pela Thais.
Seguiu-se o concerto do Pedro Atanásio – entre músicas que fizeram um e outro dar o ar da sua graça, aproveitou para lançar alguns temas novos e recordar outros tantos da sua autoria. Cantou, encantou e desencantou maneira de empandeirar os convidados do Gabriel, que apareceram e não pareceram estar acostumados léxico do cancioneiro do Pedro. Tudo sem sobressaltos – Good Vibes!
Findo o concerto fomos explorar a zona de diversão nocturna dos locais. Os mesmos que passados poucos minutos nos aconselharam a afectuosamente a abandonar o local correndo o risco de sair de lá com uma mão à frente e outra atrás. Seguimos a sugestão ainda que fora de tempo. Na ausência do nosso (Arc)anjo da guarda houve pelo menos um elemento que não voltou com todos os pertences para casa.
Não contentes com toda a farra, fechamos a noite com um mergulho geral no lago sob o céu vertiginosamente estrelado.O dia seguinte seguiu-se igual ao anterior apenas sem a agradável companhia do Arcanjo. Durante a tarde choveu cerca de meia hora e nós abrigamo-nos na água. O regresso de barco relembrava a viagem que faltava fazer para Maputo e a semana de trabalho que se lhe seguiria. Pegamos nas trouxas e zarpamos. Não sem antes deixar uma palavra de apreço e um abraço do mesmo calibre ao anfitrião abençoado.

Um comentário:

  1. estamos aqui!

    estou pensando em postar um texto falando sobre todos os blogueiros de maputo! que tal? todos comentam de todos! xi isso lembra putaria....

    abraços

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