quinta-feira, 11 de junho de 2009

Alfa Dominante


Lembro-me assiduamente de alguns documentários da BBC em que o Sir David Attenborough, inigualavelmente douto e de graça singular, explicava a interacção e organização das comunidades de animais. Sobre esse tema lembro-me de dezenas de programas. Desde espécies mais solitárias às mais sociáveis e hierarquicamente organizadas. Lembro-me dos macacos que vivem em comunidades grandes e de acordo com a idade, experiência e sobretudo força e pujança sexual, ocupam lugares de destaque e gozam de privilégios em relação aos elementos mais fracos. Lembro-me do Macho Alfa Dominante, termo utilizado pelos estudiosos destas matérias para designar aquele que tem mais poder sobre a comunidade, que ocupa o topo da cadeia comunitária, desenhada e aceite pela colectividade de forma hierárquica. Simplificando, aquele que pode cobrir a fêmea que lhe der na real telha. Aqui em Moçambique lembro-me muito do Macho Alfa Dominante. Também se falava da Fêmea Alfa Dominante, mas essa não me lembro – aqui não.
Enganem-se aqueles que pensam que a proximidade com a selva me aviva esse tipo de memórias videográficas. Não. Talvez isso tenha acontecido nas minhas poucas incursões pela savana. Mas aqui em Maputo a selva é outra e está repleta de machos Alfa Dominante.




O Macho Alfa Dominante em Maputo (MAD), é um hominídeo endémico de Portugal (pontualmente de África do Sul), caucasiano, porte médio, cavidade abdominal proeminente, dono e senhor de uma taxa de bazófia cobiçável, que padece (ou faz questão de) de um apetite sexual descontrolado, e facilmente identificável quando portador de apêndice peludo entre nariz e boca (também os há sem bigode). As vestes são de uma forma geral modestas e invariavelmente atentam às tendências do mundo da moda. Na maior parte dos casos usa calças de ganga e calça chinelinho de couro bem ao jeito do filho do criador – só no que toca ao calçado, claro. Cobre normalmente o tronco com camisa de tons claros e desabotoa os botões superiores dependendo da penugem no peito e do tamanho do ornato que traz ao pescoço – quanto maior menos botões apertados.
O MAD, julga de forma inocente ser o único em seu redor com característica Dominante. Mas MADs há muitos – é como os chapéus! Trata-se portanto de uma casta egocêntrica.
O MAD pode ser encontrado em diversos ambientes. Depende muito do à-vontade de cada um, do tempo de permanência na selva Maputense, da idade, do estado civil (em Portugal), e da responsabilidade profissional. No entanto, é de noite que se regista mais actividade do MAD e junto de locais onde a população feminina seja francamente entusiasmante (vulgo, fácil) para o sucesso da investida. O MAD genuíno não tem hora para caçar nem para aparecer – qualquer local e hora é ideal para apanhar uma fêmea mais distraída (entenda-se faminta, sem dinheiro ou um pouco mais ambiciosa).
O MAD nunca se mistura com os da sua própria raça - apenas para procriar. Pauta-se pela filosofia do “tudo que vier à rede é peixe” e não conhece (ou convence-se que não conhece) o fracasso. À semelhança dos seus primos símios vai saltando de galho em galho, cortejando o seu harém, fazendo-se sempre acompanhar da sua melhor e única arma – o metical, ou dólar para as moçoilas mais exigentes.
O ritual de corte não varia muito de MAD para MAD. Cada um com o seu estilo, caracteriza-se pela frontalidade da abordagem, superioridade, e taxa de sucesso absoluta. As relações nunca são em regime de exclusividade – o MAD preza-se polígamo – ainda que num primeiro contacto possa ser forçado a mentir sobre as suas intenções.
Após a conquista, o MAD passeia-se orgulhosamente, por toda a parte, de mão dada ao troféu. Para que todos vejam, vai distribuindo sorrisos, fitando com regozijo os transeuntes que ele julga invejosos e portanto concorrentes. Ao mesmo tempo, sem ter mãos a medir, reparte ameaças e propostas oculares às potenciais substitutas do troféu que ostenta naquele momento.


O MAD, apesar do seu comportamento olimpicamente ridículo e abominável, é uma classe respeitada e bem conservada, e por isso fora de perigo de extinção. Não é de admirar que os Portugueses não sejam vistos com bons olhos, seja pela comunidade estrangeira, seja sobretudo pela comunidade local.