sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Talvez quarenta...

Passaram quinze dias desde a minha partida de Portugal e ainda me sinto bastante confuso para organizar ideias, em relação à minha, por enquanto breve estadia. Conseguir formular um texto, que resuma um sem fim de experiências vividas, pode tornar-se uma tarefa penosa, para mim, e sobretudo para o leitor. No entanto sinto-me na obrigação de narrar as primeiras impressões sob pena de desiludir a expectativa daqueles que me querem bem. Optei então por resumir os primeiros minutos, talvez quarenta, em solo Moçambicano.

As experiências, novas, sucedem-se em catadupa. No exacto em que aterrei em Maputo, a surpresa, boa ou má, espreita em cada canto. Não se pode dizer que recebi com choque o primeiro tour que o meu ex-colega de carteira, há tempos radicado na metrópole Moçambicana, me proporcionou à chegada. Trazia a lição bem estudada. E todos os pormenores passíveis de me surpreender estavam escudados pela preparação prévia do desafio. Não obstante, e por muita investigação antecipada, o confronto com a realidade moçambicana (vulgo, pobreza e degradação) deixa qualquer mortal desolado e longe da indiferença. Imortais há em todo o lado. Imortais há muitos, seus palermas.
A chuva que se precipitava no Maputo descolorava o cenário risonho que eu idealizava antes de aterrar. E a viagem até casa, a primeira, retocou o quadro com pinceladas bem mais agrestes.
Á medida que avançávamos no trânsito (fluente mas desordenado) que confinava com a pobreza da beira da estrada, o ânimo dava sinais de fraqueza. E procurava, sem pestanejar, avistar imagens que compensassem a miséria, invariavelmente, à mão de semear. As bermas das estradas estavam atoladas de lixo multicolor que navegava ao ritmo do trânsito, (desconhecendo o significado de sarjeta ou esgoto) e por vezes mais rápido, até desaguar, à força, no primeiro cruzamento que lhe aparecesse para encalhar aleatoriamente em parte incerta. Os passeios esburacados, por sua vez, davam conta de um frenesi comercial de deixar atónito os cristãos de veia mais consumista. Tudo se vende na rua - camas, colchões, fruta, plantas, tabaco, cerveja, telemóveis, dvds, livros, bugigangas, arte, peixe, marisco, carne, sexo, almas, sorrisos, rezas e mezinhas e uma interminável variedade de produtos menos conhecidos. Também ali ao lado estavam as casas, melhor dizendo palhotas, de perder de vista. As cores permitidas nas paredes da sanzala, as que têm cor, são negociadas com os patrocinadores, na sua maioria operadores de telecomunicações, que trocam tintas por publicidade gratuita (por outras palavras, gato por lebre). É nesse cenário que a minha retina registou a primeira imagem do Maputo – um puto a brincar com uma bola, de pé descalço sobre a terra vermelha africana, e em jeito de pano de fundo uma palhota pintada por uma das operadoras onde se lia “Tudo Bom”.
À medida que nos aproximávamos do mar, a pobreza evidente sumia gradualmente até um nível, por comparação, aceitável. A meio caminho começaram a aparecer os primeiros sinais de vegetação urbana – as Acácias parecem projectadas para defender os transeuntes e bólides mal estacionados dos raios solares, ou desta feita, mas com menos eficácia, da chuva que agora era menos.
Nunca deixei de estar atento aos conselhos do meu motorista – bon vivan e conoceur da cultura local. Os alvitres do meu amigo passaram a dizer respeito à mulher moçambicana. Tomei atenção. Comecei imediatamente a por em prática algumas das sugestões. Com o vidro do carro entreaberto e à medida que respondia, só com os olhos, às miradas furtivas das jeitosas o meu ego aquecia e o volume da minha barriga passou a deixar de me molestar. As que iam pela rua, algumas, passeavam com uma graça parecida à graça brasileira (não é que eu conheça muitas brasileiras - apenas uma ou outra amiga e uma resma de moçoilas de profissão duvidosa – mas idealizo à boa maneira do Jobim), e as reacções aos meus piropos oculares eram na maior parte das vezes bem sucedidos, tal qual me avisara minutos antes o anfitrião – lembrei-me do Roberto Benigni e pensei “Funciona!” (leia-se em italiano).
Inevitavelmente, o Nuno rematou o assunto, e muito bem, com a advertência para o tema da SIDA.
Cheguei a casa.

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