quinta-feira, 14 de maio de 2009

Alunagem - The Jorge's Code

Fazia propósito de me explicar há mais tempo, aliás, pensei fazê-lo como texto introdutório deste memento electrónico. No entanto, à sombra do “faz para amanhã o que podes fazer hoje” que desde há muito é meu apanágio, fui protelando a inevitável explicação do título do meu blog.
Aproveito oportunamente o momento, seja pelas saudades que tenho da minha família, seja pelo confronto obrigatório com malogradas condutas de muitos que me rodeiam, para fazer chegar ao leitor o significado, para mim, de Alunagem.

Era primavera e corria o ano da graça de 1970 – assim introduz, propriamente, o texto que dá vida a mais uma, das muitas, pitorescas histórias que o meu Pai foi coleccionando ao longo da vida e felizmente vai partilhando com os mais próximos – precioso legado que orgulhosamente também vou compartindo com aqueles que julgo serem merecedores e que pauta as minhas deliberadas e inocentes asneiras na esperança de uma dia, acrescentar, com mestria semelhante, outros episódios no portfolio do meu progenitor. É portanto, este título, mais do que uma filosofia de vida um tributo ao meu Pai.
O assunto da ordem do dia, podia ser outro – o fim dos Beatles, a reorganização do partido do proletariado, especular sobre a saúde do ditador, a guerra fria, versar em jeito de homenagem póstuma a Almada negreiros, o “FêCêPiê”, enfim, àquela adiantada hora em que se tertuliava, ao sabor de outros sabores, naquele restaurante da urbe tripeira, havia pano para mangas. E o debate era autoritariamente moderado pelo Dr. Jorge que divagava displicentemente sobre a recente questão da alunagem.
Cada um aluna como gosta e como pode, sempre que pode – antecipava assim, o advogado da invicta, a conclusão do debate/monólogo. Frase de génio (dependendo da interpretação, claro)!

Eu pessoalmente associo a palavra a uma viagem planeada mas cheia de incertezas. Todos nós vamos alunando como gostamos e como podemos, sempre que podemos. E essa viagem não tem necessariamente que ser física – pode ser virtual, emocional, sensorial, etc. - sempre e quando nos aventuramos por caminhos que não dominamos totalmente. Eu por exemplo alunei aqui em Maputo. Já alunei noutras luas e cenários. Como pude! E há que saber lidar com as adversidades que surgem e sobretudo saber respeitar o espaço do próximo – só dessa forma a minha consciência me permite alunar como gosto, sempre que posso.
Maputo empresta solo a muitos astronautas que não sabem, ou não querem, alunar como manda o código – the Jorge’s code. Recusam-se a cumprir as regras mas condenam outros por semelhante incumprimento. Saltam valores e princípios básicos de co-habitação nesta lua que é Maputo. Doutos em hipocrisia são olimpicamente incoerentes nas suas acções e justificam-se com execranda verborreia que me entra por um ouvido a cem e apetece sair pela mão, certeira, a duzentos, mesmo na focinheira dessas pobres ratazanas. Não sabem alunar, saberão talvez aterrar, e mesmo assim muito mal.
Faço votos para que este pequeno parágrafo sirva de carapuça a esses eternos aspirantes a Neil Amstrong, e quem sabe, dependendo dos respectivos coeficientes de inteligência e bom senso, arrepiar caminho - Esse não é o caminho, e esses reles passos não farão de modo algum fazer saltar a humanidade (apenas o revés).

Posteriormente publicarei o podcast onde o notável e divertido Miguel Guilherme narra na íntegra o episódio que deu origem a este artigo, mais tarde publicado por Edições ASA em Histórias Devidas.

Um comentário:

  1. Força, camarada, não te deixes afectar pelas ratazanas... a propósito de ratos/ratazanas há uma cena muito boa no Departed, do Scorcese, com um imparável Jack Nicholson: http://www.youtube.com/watch?v=MvVqcuNQHpI
    Abraçada amiga,

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