segunda-feira, 6 de abril de 2009

Abram alas!!!

No dia-a-dia Maputense sucedem-se situações que, a nós estrangeiros contrariamente aos impávidos locais, não param de nos surpreender. Muitas vezes são pormenores que, quando escritos, não gozam do mesmo impacto que a privilegiada assistência “in loco” proporciona. Tanto quanto posso vou assentando neste memento alguns acontecimentos engraçados que se me atravessam sem pedir licença e que na maior parte das vezes me alegram o dia.


As sirenes de carros patrulha, em Maputo, são uma constante. A autoridade gosta de se fazer sentir. Normalmente em carros todo-o-terreno comandados por piloto e co-piloto (provavelmente os mais graduados da equipa) que juntamente com os restantes colegas, sentados costas com costas no banco corrido (pregado no centro da zona de carga do carro), batem as ruas da capital em busca do crime. Para além destes, e pelo menos duas vezes ao dia (no inicio e no fim), ouvem-se um pouco mais alto as sirenes dos escoltas do Senhor Presidente Guebuza, que, ainda que distando de pouco mais de um quilómetro entre aposentos e local de trabalho, faz questão em cortar a avenida sempre que vai trabalhar e quando lhe dá na real veneta - devidamente protegido por vários carros e motos, à frente e atrás, em aparato de fazer inveja aos sobrinhos do Tio Sam.
Normalmente, assisto a estes acontecimentos no final da jornada laboral, que invariavelmente passo na esplanada do café piripiri. Entre rissol, Coca-Cola, amendoim e Laurentina, juntamente com colegas e amigos, ali se fecha a tarde a falar sobre tudo e sobre nada.
Nesse dia, como nos outros tantos, o trânsito estava condicionado pelo recolher a casa em massa e pelo semáforo, então vermelho, que fica mesmo ali a dez metros da esplanada – tudo normal. Começámos a ouvir uma sirene e, já habituados à ronca do costume, continuamos o nosso lanche como se nada passasse. Com o aproximar do ruído irritante e da luz azul intermitente apercebo-me que se tratava de um camião dos soldados da paz. Jamais havia visto um carro de bombeiros por estas bandas, pelo que a aparição do bólide vermelho já constituía uma novidade para mim. Vinha desenfreado e como se não bastasse a estridente cantiga da sirene também buzinava como se não houvesse amanhã. Ao aproximar-se dos automóveis, inevitavelmente imobilizados, que aguardavam pelo sinal verde do semáforo lançava ainda sinal de luzes como que pedindo uma milagrosa passagem – era impossível algum carro naquela dupla fila dar mais do que dois palmos de passagem. Ainda assim, talvez em desespero, e praticamente esgotadas hipóteses para o milagre de Moisés, o comandante do camião tirou da manga mais uma tentativa para afastar a barreira. Pegou no megafone e mesmo ali à nossa frente ecoou o seguinte aviso – Senhor Veículo, deixe passar Os Bombeiro! (leia-se com a devida pronuncia Moçambicana).
Toda a esplanada sorriu e riu. E eu fui para casa, contente e com mais uma história no bolso.

2 comentários:

  1. Surreal ehehe só mesmo nessa terra!

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  2. Acrescento que há uma mudança enorme... recordo-me que em Dez. de 1979 (tinha 7 anos e de férias em Maputo) quando passava nas ruas a coluna do Presidente Machel o meu pai tinha que parar o carro, sair e levantar um dos braços (ao estilo saudação nazi).
    Sirenes, carros pretos, motas, policias e tanques de guerra... foi a primeira vez que vi um tanque de guerra... a primeira e a última até ir para a tropa.
    Outra recordação dessas férias foi imediatamente à chegada, no aeroporto, ver um retrato enorme do Presidente Samora Machel.

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